Dia das Mães
Creio que cada filho guarda na lembrança algum momento especial vivido com sua
mãe. Neste Dia das Mães quero relembrar e compartilhar com meus irmãos dois
momentos que tive com a nossa; que de algum modo, creio, vai despertar as próprias
recordações de cada um. No texto abaixo, de forma condensada,
procuro transmitir como eu captava o amor e o afeto de nossa mãe que, creio, ela
dava igualmente a todos os filhos. É tão somente uma homenagem tardia, trazendo boas recordações, espero que gostem.
O Triunfo de Ivone
In memoriam,
Um desses momentos foi quando eu ainda tinha 6 anos - nesta idade não fixamos
muitas recordações, mas essa ficou para sempre. Moravamos em Osvaldo Cruz e à
época eramos 7 filhos, todos em idade de inspirar cuidados, Zé Carlos, Beto,
Luiz, Gracinha, eu era o quinto e havia também as duas menores, Verinha e
Glorinha (Marquinho ainda não tinha chegado). Aqui penso que nossa mãe tinha que
remir o tempo para poder dedicar aos 7 filhos, ao marido e aos afazeres
domésticos, fora as dificuldades do dia a dia. Contudo, lembro que ela andava preocupada com minha alfabetização,
mas não tinha como pagar uma professora particular - estavamos no fim do ano e
no ano seguinte eu teria que entrar no curso primário. Então, remindo o tempo,
ela resolveu ela mesma me iniciar nas primeiras letras, crendo que o tempo iria
se adequar. A primeira coisa que me ensinou foi fazer o "F" e o "I" maiúsculos,
depois me ensinou a escrever meu nome e o seu nome, “Ivone”. Quão admirável foi
aquilo! Rapidamente aprendi e até hoje meu “I” maiúsculo sai igual ao dela.
Então, depois de me ensinar o ABC e alguma tabuada, e agora contrariando uma
situação financeira adversa, ela resolveu me colocar em uma professora
particular, crendo que as finanças também iriam se adequar (Minha mãe tinha esse
dom, de contrariar as adversidades, de tirar da escassez fartura, de criar e
educar bem os filhos, refutando estatísticas e expectativas contrárias; os
críticos de plantão, ela os ignorava (nunca a vi falar mal de alguém) e ainda conseguia ajudar outras famílias). Então, das 3 às
5h da tarde eram as aulas com a explicadora particular, na Rua Pinto de Campos,
perto da igreja. Na saída por volta das 5h10 eu estava chegando a casa e já da
entrada do portão podia sentir o cheiro do café da tarde de minha mãe. Muitas
vezes a encontrava no fundo do quintal, as folhas caídas das árvores já
varridas (o quintal era como um pomar), as meninas brincando ao redor, ela com as mãos apoiadas sobre o cabo
da vassoura, olhar introspectivo, como que em oração, sublimando as agruras e buscando alento para seguir em frente...
- Mãe, cheguei! Ela voltando, me sorria! Quão inesquecível!
Outro momento, foi quando eu tinha 15 (Aqui papai já descansara), fomos morar
na Rua 9, Guadalupe, aqui já havia o Marquinho. Mamãe ficou muito feliz quando
abrigou a sua prole. Se não me engano, no quintal havia 2 abacateiros, 1 coqueiro,
1 romã e 1 limoeiro; e de imediato ela mandou os filhos construirem um
galinheiro nos fundos, de onde, eventualmente, complementava a alimentação da família. Lembro que nossa mãe gostava de chupar cana, por vezes ela me mandava comprar cana num sítio lá no Camboatá, eu trazia o feixe de canas arrastando-o pelo Paiol. À tardinha sentávamos
no fundo do quintal (ela e os filhos) e nos fartávamos de cana. Com que destreza
ela cortava os gomos! E chupavamos cana até cansar os queixos! E riamos a vontade! Ela e seus rebentos!
Naquele momento eu olhava para ela e podia captar
seu sentimento de triunfo, como quem acabara de “mandar às favas” toda a
adversidade que vinha contra ela e sua família. Ali estavam o amor, a ternura e a candura, em expressão e extensão!
Quando nossa mãe descansou, eu tinha 16, ela partiu cedo (Não chegou a conhecer netos), mas deixou um
precioso legado de vida, que ancorou os 8 filhos no
caminho do bem. Hoje esse legado se reflete nos netos e bisnetos e com certeza
vai se refletir nas novas gerações. Ela tinha o caráter dos bem-aventurados:
humildade, mansidão, caridade, compaixão, senso de justiça, talvez por isso teve
de enfrentar tanta adversidade em sua trajetória, mas com certeza, na graça do
Senhor Jesus, triunfou de todas.
A lembrança desses momentos reforçam minha crença em Deus, e a esperança no porvir!
Fica a homenagem!
Fabinho (Era como ela me chamava)
(Em Osvaldo Cruz havia um canavial no fundo do quintal)